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3 Atitudes Que Podem Transformar a Indústria da Moda

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ILO/Aaron Santos

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Sem Logo, de Naomi Klein, publicado em 1999, alertou o mundo para a exploração nas cadeias de fornecimento da indústria da moda.

Quase 20 anos depois, o ritmo da mudança é frustrantemente lento. Eu não estou sozinha sentindo a frustração – há um sentimento crescente entre aqueles que lideram o movimento da moda sustentável de que é hora de parar de tentar comer pelas beiradas. Nós passamos muito tempo fazendo isso, mas agora é tempo para algum impacto real. Vejo três grandes oportunidades para impulsionar mudanças transformadoras:

1. CRIAR UM CAMPO DE JOGO NIVELADO – LUCRO, MEIO AMBIENTE E PESSOAS.

Durante muito tempo, o senso comercial dos negócios era sobre construir cadeias de suprimentos que gerem lucro financeiro em detrimento das pessoas e do meio ambiente. As coisas estão mudando. Mais e mais empresas estão provando que as práticas sustentáveis ​​criam o melhor modelo para o lucro financeiro a longo prazo. Exemplos na linha de frente incluem a Reformation, cujas receitas foram triplicando ano a ano. E a Kering, que está investindo fortemente na inovação da cadeia de suprimentos e valorizando a perda ambiental ao lado do lucro financeiro (veja a Conta de Perdas e Lucros Ambientais da Puma).

Os visionários criaram a melhor maneira de nivelar o campo de jogo em um esquema 3D de perdas e lucros (3D P&L). Este é um conceito extremamente inspirador que envolve todas as empresas que valorizam seus impactos sociais e ambientais da mesma maneira que valorizam perdas e lucros financeiros. Assim, as contas anuais das empresas representam uma imagem verdadeira do valor que criaram – ou as perdas que ocasionaram. O 3D P&L é um conceito ambicioso – e aquele que, se implementado, transformará práticas comerciais em uma escala sem precedentes.

2. LIDERANÇA REAL – POR PARTE DOS LÍDERES DA INDÚSTRIA

À medida que as mudanças climáticas e a desigualdade global crescem em status como a “maior ansiedade do nosso tempo”, estamos vendo os líderes da indústria da moda darem um passo à frente. Roland Mouret apoiou e lançou o filme sobre mudanças climáticas “Ten Billion”, Stella McCartney está construindo sua marca e sua cadeia de produção a partir de seus valores, Vivienne Westwood tornou-se uma defensora aberta da sustentabilidade, e Francois Henri Pinault mudou o nome de seu império global para “Kering”, como uma declaração de seu compromisso com uma maneira mais carinhosa de fazer negócios.

No entanto, a grande maioria dos líderes empresariais na indústria da moda não vê “a grande ansiedade do nosso tempo” como parte de sua responsabilidade. Para eles, “negócios como de costume” significa, na melhor das hipóteses, implementar um departamento de Responsabilidade Social Corporativa ou instituir um comitê de ética – com um mandato, mas pouco poder para conduzir melhores práticas – e, na pior das hipóteses, não se responsabilizar por endereçar melhores práticas em suas cadeias de suprimentos.

A liderança orientada por valores está ligada ao gênero. De acordo com o relatório americano de 2013, Trust Insights on Wealth and Worth, as mulheres bem-sucedidas são mais propensas do que homens bem-sucedidos a possuir um negócio com o objetivo de causar um impacto positivo no mundo. Apesar do fato das empresas com mais mulheres na liderança terem um resultado financeiro significativamente melhor, com 41% maior retorno sobre o patrimônio líquido e 56% melhores resultados operacionais (McKinsey), negócios liderados por mulheres não estão sendo financiados – menos de 7% do capital de risco se destina a empresas lideradas por mulheres.

Todos os grandes líderes tiveram uma característica em comum: a vontade de enfrentar inequivocamente a grande ansiedade de seu povo em seu tempo.

John Kenneth Galbraith

Uma liderança mais real irá transformar nossa indústria. O investimento em liderança orientada por valores, incluindo mais negócios liderados por mulheres, resultará em melhor retorno para os investidores. Essa liderança responsável também criará uma plataforma de lançamento para melhores práticas em nossas cadeias de suprimentos.

3. LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS E COMPROMISSO POR PARTE DAS EMPRESAS

A Lei da Escravidão Moderna (Modern Slavery Act) do Reino Unido de 2015 tornou as empresas responsáveis ​​pela escravidão que ocorre ao longo de toda a sua cadeia de operações. Pela primeira vez, isso cria uma legislação vinculativa em relação à transparência nas cadeias de fornecimento da indústria. Após anos de compromissos e iniciativas voluntárias, desde a Iniciativa de Comércio Ético (Ethical Trading Initiative) até a Coligação de Vestuário Sustentável (Sustainable Apparel Coalition), que se limita às empresas que desejam se envolver, a Lei da Escravidão Moderna exige que todas as grandes empresas sejam responsáveis.

Criar uma regulamentação vinculativa para uma indústria tão intensamente global quanto a moda tem desafios óbvios. No entanto, as oportunidades de legislação inteligente a nível nacional são enormes.

A nível internacional, existem também oportunidades inexploradas para conduzir melhores práticas. O Pacto Global da ONU oferece as bases para construir uma coalizão muito mais vinculativa e impactante de negócios focados não apenas em não prejudicar as pessoas e o meio ambiente, mas também preocupados em como eles podem criar valor ao longo de suas cadeias de suprimentos.

O rápido crescimento do Sistema B é inspirador em seu potencial para impulsionar a mudança através de compromissos sérios pela indústria. O Sistema B é para os negócios o que a certificação Fairtrade é para o café. Empresas B são empresas com fins lucrativos, certificadas pelo B Lab sem fins lucrativos, para atender aos padrões de desempenho social, ambiental, responsabilidade e transparência. E se o Sistema B unisse forças com o Pacto Global da ONU? Agora começamos a conversar.

Colaborar como indústria e como sociedade através da política é a rota difícil, mas essencial para alcançar mudanças transformadoras. É hora de parar de comer pelas beiradas, e isso significa falar sobre legislação, em escala global.

Foto de Capa: Ando International, uma confecção vietnamita com 900 funcionários // ILO/Aaron Santos com Licença Creative Commons

Esse artigo foi escrito por Tamsin Lejeune, publicado originalmente no blog do Ethical Fashion Forum e traduzido com autorização para o Modefica.

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