Nascido da ONG Breast Cancer Action, o Think Before You Pink busca denunciar “pinkwashers”, termo inventado para designar empresas que, ao mesmo tempo em que afirmam ser uma entidade consciente e apoiadora do Outubro Rosa, usam ingredientes em alguma fase de produção que são ligados a contração de câncer de mama.
Esse posicionamento falso em relação as suas ações de combate à propagação da doença rendeu grandes campanhas nacionais com abaixo assinados destinados às empresas. A campanha mais recente do grupo é contra a maior cultivadora de frutas cítricas dos EUA, que foi denunciada por usar restos de água residuais proveniente de companhias de óleo para irrigar suas frutas cítricas – e ao mesmo tempo usam o laço rosa para vende-las.
Além de campanhas consideradas questões urgentes de saúde pública, a Think Before You Pink também realiza eventos em prol da conscientização e prevenção do câncer de mama em todo país, como palestras, debates e caminhadas. Aliada a campanhas da ONG, o foco do grupo é tomar medidas não só preventivas para que mulheres compreendam melhor como diminuir as chances de contração, mas também ajudar aquelas que estão no processo de vencer a doença além de cortar a raiz do problema com intervenções na sociedade, tais como as denúncias a irregularidades das empresas que apoiam o Outubro Rosa.
Outra campanha nessa direção é o #RethinkThePink, do Breast Cancer Fund, que luta para eliminar as causas ambientais relacionadas ao câncer de mama, questionando os ingredientes dos cosméticos, dos produtos de limpeza e higiene pessoal, e também das indústria alimentícia. Recentemente, eles lançaram uma lista de empresas que são, de fato, preocupadas com o câncer de mama e que vale à pena apoiar.
E no Brasil?
Com base em algumas indicações do TBYP, procuramos ver como o mercado brasileiro agiu neste Outubro Rosa. As perguntadas que você deve fazer sugeridas pela projeto são:
1. Quanto do valor da sua compra realmente vai para a causa?
2. Qual o limite máximo que será doado?
3. Quanto dinheiro foi gasto no marketing do produto?
4. Como os valores estão sendo arrecadados?
5. Para qual organização de câncer de mama o dinheiro vai e quais tipos de programa ele ajudará?
6. O que a empresa está fazendo para assegurar que seus produtos não estão contribuindo para a epidemia do câncer de mama?
Fazendo uma busca por empresas de diferentes áreas, destacamos algumas campanhas bem orientadas – outras nem tanto-, que ou informaram a porcentagem do lucro do produto a ser doada ou a qual entidade seria destinado o dinheiro, além das que cederam seu espaço para eventos de conscientização.
Shoppings de diversas partes do Brasil, como o Complexo Tatuapé, abriram salas especiais, eventos com palestras, arrecadação de lenços e maquiagem para pacientes, atendimento com exame preventivo, entre outras ações, tudo em conjunto com empresas colaboradoras e ONGs. A ONG Orienta Vida estava na parceria, com a campanha Pense Rosa: cada R$ 150 de cupons gastos no shopping poderiam ser trocados por uma pulseira confeccionada artesanalmente por mulheres carentes beneficiadas pelo projeto.
É nessa época do ano também que ONGs criam uma programação especial: com o Outubro Rosa, elas conseguem recursos a mais com linhas especiais que ajudam a mantê-las ao longo do ano. A Rede Feminina, em Maceió, é uma delas. Viver de doações não é fácil, com uma cadeia de colaboradoras enorme, a entidade programa bazares, bingos especiais para a arrecadação de dinheiro que será utilizado no apoio aos diversos pacientes que moram, comem e utilizam do transporte da ONG para ir aos hospitais.
O Instituto Se Toque fez uma parceria com a marca de produtos de decoração e lifestyle Imaginarium. Parte das vendas do Mini Copo Power, feito em edição limitada, será destina ao Instituto.
Gigantes dos cosméticos e farmacos também costumam apoiar a causa. A Avon, por exemplo, procurou chamar a atenção para a causa por meio do novo perfume, cuja parte da renda na fase de lançamento será revertida a projetos amparados pelo Instituto Avon que apoiam mulheres no combate ao câncer de mama. No site, a empresa mostra sua contribuição em números: em 12 anos de atuação no Brasil, o Instituto Avon investiu mais de R$ 70 milhões em cerca de 180 projetos, voltados ao bem estar da mulher.
Também aconteceu a modificação de produtos já existentes como mudança na cor, adicional de chaveiros ou laços rosa, para a conscientização da causa. A empresa Dermacyd foi uma das que adotou o método: a nova versão do sabonete íntimo da empresa veio na cor rosa e destina R$ 1,00 do produto a ação Saúde Íntima para Todas. Além disso, entre os meses de outubro e novembro, a empresa disponibiliza um caminhão adaptado que percorrerá comunidades do Brasil com atendimento gratuito de ginecologistas.
Entretanto, em se tratando de empresas de cosméticos e farmacos, como é o caso da Avon e Dermacyd, mesmo com valores altos doados e campanhas preventivas em ação, permanece a sensação de “pinkwashing” já que muitos ingredientes usados nas formulações dos seus produtos já foram linkados ao desenvolvimento de câncer.
Em um texto para o The Huffington Post, We Can’t Waste Another October: End Pinkwashing and Stop Cancer Before It Starts (Nós Não Podemos Desperdiçar Outro Outubro: Acabe Com O Pinkwashing e Previna O Câncer Antes Dele Começas), Karuna Jaggar, Diretora Executiva da Breast Cancer Action, aborda exatamente esse assunto. Ela ressalta não só as ações de empresas do segmento dos cosméticos e beleza que formulam seus produtos com ingredientes duvidosos, como também campanhas de empresas de alimentação e até indústria automobilística.
Outras ações podem ser vistas como a mudança de logotipo da rede de canais da TV paga, Discovery, que também veiculou depoimentos inspirados em casos reais de mulheres que combateram a doença. A Vivo lançou a webserie “Conectadas somos mais fortes”, que conta depoimentos reais de quatro mulheres com câncer de mama. A Azul, em parceria com a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), ofereceu em seus voos discurso sobre mulheres que venceram a doença.
A legislação brasileira tem um bom incentivo para empresas fazerem doações a entidades sociais em forma de desconto em taxas governamentais. Por isso, vemos diversas campanhas que ajudam na propagação da missão do Outubro Rosa: a conscientização, prevenção e combate ao câncer de mama.
Entretanto, vale lembrar que uma das sugestões do Think Before You Pink é que se a empresa não diz quanto do seu dinheiro irá para programas de pesquisa ou auxílio a portadores da doença, considere fazer uma doação direta para ONG’s ou projetos relacionados ao tema. No próximo Outubro Rosa, e em todas as campanhas filantrópicas, vamos ser mais curiosos e considerar a doação direta.