Ao se profissionalizar, os empreendedores e empreendedoras aprendem sobre valorização da mão de obra, as regras de segurança no trabalho e realizam reformas estruturais nas oficinas, transformando o dia-a-dia dos funcionários e promovendo relações dignas de trabalho. A campanha, lançada em 28 de janeiro – dia nacional do combate ao trabalho escravo – tem como objetivo arrecadar pelo menos R$ 25 mil para reformas de oficinas de costura, visando diminuir os riscos de acidentes e doenças laborais.
Cenário paulista
Estima-se que São Paulo possui 10 mil oficinas de trabalho, envolvendo aproximadamente 300 mil costureiras e costureiras, muitos em condições ilegais de trabalho. Pessoas imigrantes latino-americanas no ramo da confecção acabam trabalhando, em média, 18h por dia, sendo obrigados a residirem no mesmo local de trabalho em condições adversas para sua saúde. “O Tecendo Sonhos trabalha em rede para gerar transformações reais nas relações de trabalho da cadeia têxtil, melhorando as condições de trabalho de imigrantes, e também nos ambientes de trabalho das oficinas de costura apoiadas”, afirma a coordenadora do projeto, Cristina Filizzola.
A informalidade nas relações de trabalho na cadeia produtiva de moda prejudicam a qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras. Dona de uma oficina de costura, Alícia Vargas nasceu na Bolívia e imigrou para o Brasil em 2008. Mesmo trabalhando em diversas oficinas ao longo dos anos, ela não escapou do regime de trabalho de 16h, de segunda à sábado. A motivação para não desistir vinha da necessidade de prover para sua família. “Não foi fácil, a gente trabalha muito e nunca deu certo, mas por causa da minha filha, eu tinha que trabalhar. A gente falava que não podia desistir”.
Alícia descobriu o curso para empreendedores, da Aliança Empreendedora, através do rádio. “Eu me inscrevi porque queria sair daquele trabalho e esse curso me ajudou bastante, porque eu estava fazendo tudo errado. Depois do curso, a oficina melhorou bastante, a estrutura, as instalações. Ter tudo certo foi um processo, mas agora sei o valor do meu trabalho, sei negociar o produto com a empresa”, reforça.
A campanha #DoeTecendoSonhos acontece até o dia 30 de maio e todo recurso recebido será destinado às melhorias de 20 oficinas de costura, com a compra de equipamentos de segurança, ergonomia e reformas elétricas. Doações podem ser feitas pelo site: https://goo.gl/feQ4Q6. Você também pode acompanhar o projeto Tecendo Sonhos pelo site, Facebook e Instagram.
Pra saber mais
Em 2017, o Modefica fez o especial Mulheres Imigrantes na Costura, analisando a cadeia produtiva de moda em São Paulo sob a perspectiva de gênero. A reportagem aborda desde as razões pelas quais as imigrantes buscam uma nova vida no Brasil, as dificuldades com a língua, leis trabalhistas, preconceito, a sociedade patriarcal e a vida nas oficinas de costura. Ongs, pastoral, advogada, psicóloga e imigrantes contam como a vida acontece nesse cenário do novo modelo da escravidão. Criamos também a cartilha Como se Engajar – Combatendo o trabalho análogo à escravidão, a desigualdade e violências de gênero, voltada tanto para empresas como aos cidadãos e consumidores.