A vontade de produzir um relatório sobre têxteis está ligada à urgência da transformação que precisamos fazer acontecer na próxima década se quisermos garantir condições de vida minimamente estáveis na Terra frente a um cenário climático em profunda transformação. Entretanto, tal mudança só acontecerá se formos capazes de nos localizarmos no tempo-espaço: um país do Sul global, de base extrativista, com problemas particulares em dimensões continentais, no entanto, repleto de capacidade criativa para liderar essa jornada.
As informações, dados e conclusões encontradas no documento não são exaustivas, muito pelo contrário. Há um enorme déficit de fontes abertas e disponíveis, tanto em se tratando de dados comerciais e econômicos, quanto de impactos socioambientais causados pela produção das fibras têxteis. Tal dificuldade era prevista, mas nosso principal objetivo é dar o passo inicial à sistematização das informações, salientar as lacunas existentes, promover o pensamento sistêmico quando falamos de sustentabilidade e incentivar a produção de mais conhecimento sobre o tema. Também estressamos os conceitos de economia circular, analisando diversas escolas de pensamento e propondo uma abordagem a partir dos saberes e viveres do Sul. Esperamos que este relatório seja visto também como uma contribuição para o processo de decolonização do próprio conceito de sustentabilidade.
Ressalto que não se deve ler a presente pesquisa como um incentivo ou validação do status quo, porém “mais verde”. A economia circular aqui debatida é uma das várias estratégias e ações que precisam ser adotadas para superação do atual modelo econômico baseado em crescimento infinito, consumismo, iniquidade e desigualdade social em que vivemos, e o qual a indústria da moda reproduz e reforça. Inclusive, as escolas de pensamento da economia circular mais respeitadas alertam para inviabilidade da circularidade nos atuais volumes de produção e consumo. Só no Brasil em 2018 foram produzidas mais de 9 bilhões de peças, passando o total de 40 peças por habitante. O mesmo alerta deve soar quando falamos de terras férteis destinadas à produção de matérias-primas para a moda, o que pode significar ameaça à soberania alimentar da população.
Por fim, você encontrará recomendações aos diversos atores envolvidos no processo de transformação, tratando todos como atores de influência, porém com responsabilidades diferenciadas. Grandes varejistas e tecelagens têm um papel importante por possuírem recursos, controlarem os processos produtivos e terem grande capacidade de influência na sociedade, podendo, portanto, acelerar a transformação a partir de um compromisso ético e moral com a pauta da sustentabilidade. Incontáveis estudos e pesquisas demonstraram previamente os ganhos econômicos e financeiros da transição para a economia circular, mas os passos dados são incipientes e estão lentos demais para o tempo que temos disponível considerando as alterações do clima, a perda de biodiversidade e a injustiça social em curso. A expectativa maior é que este relatório seja lido como um chamado para mudança e usado como ferramenta para transformação.
Acesse o relatório em https://modefi.co/relatorio-fios-da-moda e compartilhe com as #fiosdamoda e #fashionthreads