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Modelos Expõem Casos de Racismo e Formam Grupo para Fortalecer Diversidade na Moda

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  • Juliana Aguilera
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Victória Lobo

5 min. tempo de leitura

Nas últimas semanas, temos presenciado o movimento antirracista ganhar um novo impulso a partir dos assassinatos de George Floyd, nos EUA e do menino João Pedro, no Rio de Janeiro. Das diversas manifestações dentro e fora da Internet, uma ganhou desdobramentos na indústria da moda. Durante a #BlackoutTuesday, diversas marcas e figuras públicas viram a necessidade de "aderir" ao debate e entraram no movimento de postar um quadrado preto nos seus feeds do Instagram. O #BlackoutTuesday começou como um movimento da indústria fonográfica como forma de apoio aos levantes nos EUA - um dia sem lançamentos de músicas ou videoclipes - e logo se tornou viral.

O que muitas marcas que entraram no movimento não esperavam era que sua falta de compromisso real com o tema seria revelada tão rapidamente e ganharia tamanha atenção por meio da exposição de fatos e relatos nas redes sociais. Foi o caso de Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço, este último que chegou a levar o caso à justiça.

Embora não tenha havido um movimento centralizado e o assunto esteja sendo levado adiante por meio de diversos atores, um grupo de três modelos está mantendo o debate de pé e exigindo mudanças estruturais na indústria. Entre elas está Cindy Reis, modelo de 20 anos, natural de Barra do Piraí (RJ) que decidiu advogar pela inclusão e respeito à diversidade.

O trio criou o grupo Pretos na Moda, que tem o objetivo de “auxiliar tais profissionais em vários âmbitos da profissão, trazendo soluções efetivas para a melhoria da indústria”. Batemos um papo com ela sobre sua trajetória, o despertar do ativismo, as experiências que já passou na indústria e a importância construir um espaço mais humano, com mais oportunidades e equidades para modelos de todos os corpos e cores.

 
Modefica: Quem é Cindy Reis e como você chegou até aqui?

Cindy Reis: Sou uma mulher que já fez de tudo na vida, desde teatro, curso de bombeira civil, karatê e futebol. Sempre amei estudar, e era um moleque, quando mais nova. Passei por desafios, mas deles tirei as melhores vivências de tudo o que passou e me tornei forte e independente.

Foi uma longa trajetória desde quando saí da casa da minha mãe, aos 18 anos, no interior, e me mudei sozinha para a capital do Rio, onde pude conhecer um novo mundo e batalhei para conquistar meus objetivos. Muitas vezes, a vontade de desistir se estampou na minha cara, mas eu gritei mais alto e não me permiti desistir. Fui apresentada à agência JOY Model, me aprovaram, fui para São Paulo e desde então, foi como se eu tivesse começado outra vida.

Aprendi muito, muito mesmo, batalhei mas com muito mais força de vontade – pois ao meu ver, São Paulo é uma batalha de leões diária. Tive a oportunidade de viajar para o exterior, e fiquei morando em Londres por um ano e dois meses.
Essa foi a última etapa da enxurrada de ensinamentos que eu obtive. Mesmo passando por uma jornada conturbada, transformei em aprendizado tudo o que havia de ruim no meu caminho.
 
O que te moveu a dar voz à questão do racismo na moda?

Já era hora de sermos escutadas, e de relatar o lado nada glamouroso de uma modelo. A isto, adiciona-se o fato de ter visto marcas se autopromovendo em ações como o #blackouttueday, sendo que a conduta destas marcas não era nada inclusiva. Foi ali que me deu este “click”, e logo pensei: “Basta! É hora de agir”.

Cindy Reis é uma das lideranças do movimento que está questionando a indústria // Reprodução

Como você sente a discriminação racial no seu meio de trabalho? Essa conduta sempre esteve presente?

Acontece desde piadinhas banais, como sobre poder colocar várias coisas no meu cabelo, até declarações como: “negra bonita, tem traços finos”. Deslegitimar uma raça alegando que “você é branca demais para ser preta” ou “preta demais para ser branca”, é uma forma de discriminação, e me afetou ao ponto de ter crises de identidade. Em uma fase, isso atrapalhou no meu autoconhecimento e na descoberta de quem sou, quando estava em pauta o colorismo. Desde o começo da minha carreira, vivenciei situações do tipo e acredito que essa má conduta está mais enraizada do quanto imaginamos.
 
Qual a importância e necessidade de evidenciar atos de racismos na moda na atualidade?

Muitas pessoas foram discriminadas e reprimidas por anos e, o pior de tudo, ficaram em silêncio. É deplorável saber que isso se perpetuou até os dias de hoje. É um assunto necessário a ser discutido de modo urgente, para que comecem a elaborar e colocar em prática melhorias e maneiras mais inclusivas de se agira na indústria, e também para evitar que as gerações futuras sofram com algo tão brutal e traumático como o racismo.
 
Quais mudanças concretas você gostaria de ver neste meio?

Inclusão, e não somente racial, mas também a de pessoas com deficiência, de diferentes etnias, da comunidade LGBTQI+, da diversidade de corpos, entre tantas outras. Igualdade e valorização em todos os níveis da pirâmide, oportunidades e, acima de tudo, respeito.
 
Há tempos falando da necessidade de assumir a diversidade de corpos na moda. Você acha que esse movimento está sendo feito?

Está sendo feito, porém de um modo ainda lento. Não é tão inclusivo como deveria ser.
 
Quais modelos ativistas te inspiram?

A minha musa ativista é a Adwoa Aboah, que inclusive tive a inesquecível oportunidade de conhecê-la rapidamente. É uma mulher incrivelmente forte e fundou a Gurls Talk, que já beneficia muitas mulheres.
 
Onde as pessoas podem te encontrar?

No meu Instagram @cindycreis e também no @pretosnamodabr, através de lives e posts onde busco compartilhar informações reais e didáticas.

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