Daniela introduz a matéria da vez, “Crise Climática Põe em Risco Comunidades Extrativistas Tradicionais da Amazônia”, com a frase inicial que tece o tom do texto: “o futuro não é para as árvores amazônicas”. A matéria aborda um estudo realizado por diversos pesquisadores e pesquisadoras brasileiros, publicado na revista científica Biological Conservation, sobre a crise climática e seu risco para as comunidades extrativistas tradicionais da Amazônia.
Mas se o futuro não é para as árvores, ele tão pouco é para as mulheres destas comunidades, que estão em luta para preservar seus modo de vida e condições de trabalho. Utilizando as projeções para 2050 do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o estudo aponta para a redução de espécies fundamentais para o território amazônico e para manutenção das famílias, como Castanha-do-Pará, Açaí, Tucumã e Babaçu.
O que significa analisar estas questões sob uma perspectiva ecofeminista?
Significa colocar uma lente que explica a complexidade das situações, e a partir da qual “buscamos compreender e agir no mundo a fim de transformá-lo. Para isso, lançamos mão de diferentes categorias, metodologias e abordagens epistemológicas”, explica Daniela, “ou seja, saberes que nos equipam com ferramentas capazes de realizar esse trabalho”. Trabalho este que é a superação das desigualdades e injustiças. Desse modo, somos capazes de estabelecer conceitos, métodos e o modo de compreender os conhecimentos e as vozes que tradicionalmente não são levadas em consideração pelo pensamento dominante na construção de variados campos.
É importante também destacar que tipo de extrativismo falamos nessa análise e matéria. “Quem já ouviu falar em pós-extrativismo talvez esteja com um nó na cabeça e se perguntando por que estamos preocupados com os problemas e riscos que as comunidades extrativistas estão sofrendo na Amazônia”, comenta Daniela. A filósofa então explica a diferença entre comunidades tradicionais extrativistas e o extrativismo como característica do sistema capitalista.
Mulheres do campo, das águas e da floresta
A preservação ambiental está, de fato, nas mãos dos povos tradicionais, camponeses, indígenas – justamente os grupos que mais sofrem com a devastação ambiental. E essa resistência tem gênero: “ao mesmo tempo em que as mulheres sofrem desproporcionalmente as consequências dos problemas ambientais, são elas que têm levantado suas vozes para denunciar opressões”, afirma. Daniela nos conta sobre quem são e onde estão estas mulheres e como elas contribuem como protagonistas da luta socioambiental.
Somos lembrados de ações como a Marcha das Margaridas, que possui uma agenda permanente dos movimentos feministas e do movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras rurais, e da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas. A 2ª edição dessa marcha, inclusive, faz Daniela lembrar da ecofeminista Vandana Shiva. Com a temática “Mulheres Originárias, Reflorestando Mentes Para Cura da Terra”, a filósofa aponta que Shiva fala sobre a colonização intelectual, no qual as tradições locais são colonizadas e adquirem uma suposta universalidade. Essa característica gera, por consequência, o apagamento de saberes locais dos colonizados.
De volta à matéria – não nos perdemos na temática não, está tudo interligado – Daniela aponta que as mudanças climáticas já são sofridas pelas comunidades amazônicas. Ela reforça a injustiça climática: embora a origem desses acontecimentos seja de causa antropogênica, ou seja, causados pelo homem, as famílias destas comunidades não são as causadoras dos eventos, mas são elas as mais afetadas.