Todos os detalhes considerados como “tipicamente africanos” estavam lá na passarela: ossos, miçangas, cores, e padronagens. Os elementos utilizados em vestimentas tradicionais africanas foram adicionados a bordados e desenhos elegantes. Todos os detalhes, menos a pele negra, descendente do povo responsável por criar a arte ali reproduzida.
O fato de somente oito modelos negras serem escolhidas para desfilar os 89 looks do desfile chamou atenção nas redes sociais. No twitter, a usuária @ShenelledelSol observou: “Apropriação cultural não é algo novo na indústria de alta-costura. O tema africano é mostrado com tranças, mas quase nenhuma modelo negra”. Já @rikki_yolo_mom comentou: “Quando uma garota branca (eu) consegue ver a apropriação cultura dentro dos primeiros segundos do show, você sabe que a situação é ruim”. É curioso pensar como apenas a própria marca foi incapaz de perceber tamanha incoerência.
Desfile Valentino SS16
Esta não é a primeira vez que uma marca se apropria de culturas e simbologias de lutas e as transforma em objetos de consumo e, principalmente, de lucro. Há não muito tempo, a Farm representou Iemanjá com uma modelo branca e foi criticada por ativistas. Em um exemplo mais recente, a Riachuelo foi até o Marrocos para gravar o comercial de uma coleção inspirada no país, somente para desfilar modelos brancas usando turbantes.
Ao se apropriar de uma cultura e nem ao menos dar espaço para suas verdadeiras representantes, a moda colabora com a segregação e falta de representatividade tão frequentes em todos as outras vertentes da mídia como cinema, TV e publicidade.
Ser mulher negra é, de fato, uma resistência diária, principalmente depois do encontro com uma identidade empoderadora e motivadora de muito orgulho. No meio da moda isso não é diferente, há mulheres negras compartilhando o talento de suas mentes criativas através de marcas independentes responsáveis por questionar a apropriação cultural do segmento. Afinal, se é para ter influência da África na vestimenta e nos acessórios, que estas peças sejam produzidas por mulheres descendentes dessa cultura e sejam elas quem lucrem por isso.
Pensando nisso, listamos 5 marcas criadas por mulheres negras para mulheres negras, que fazem o que fazem por amor e respeito à identidade e ancestralidade africana.
1. Dresscoração
As peças de Luma Nascimento, de quem nós já falamos por aqui, têm lindos desenhos coloridos estampados e ainda cortes super originais. Na Dresscoração é fácil encontrar desde saias com cortes elegantes até bolsas e carteiras despojadas como acessórios.
2. Turbante-se
Sim! Uma loja todinha só de lenços para amarrações de turbantes! E dá pra se inspirar muito com as fotos que a dona da loja, Thais Muniz, mostra no Instagram oficial da marca.
3. Okan
O lançamento mais recente da marca é uma linha de jaquetas com estampas africanas. Tem lenços, vestidos, camisas e calças também estampadas e coloridas pra escolher.
4. Maria Chantal
“Seu cabelo crespo não precisa ter cachos perfeitos”. Esta e outras frases empoderadoras para mulheres negras estão estampadas nas camisetas vendidas na loja Maria Chantal. Por lá também tem turbantes e estampas lindas em diversas peças.
5. Boutique de Krioula
O que chama atenção de primeira ao passear pela loja são os desenhos de mulheres negras com rostos pintados ou usando turbantes tipicamente africanos. Já que falamos sobre a importância da representatividade, imagina usar um vestido com uma mulher que parece você desenhada?
Extra:
6. TTrappo
A TTrappo não só consegue misturar um estilo básico e confortável em estampas coloridas com inspiração africana, como ainda te inspira a montar looks incríveis com os belos ensaios que a marca produz. A Ttrappo preza também pelo slow fashion e upcycling.