O real conceito do termo ‘feito à mão’ vem da alta costura francesa em que as peças são todas adornadas, montadas e costuradas à mão, praticamente sem auxílio de máquinas. Como explica o FFW, “algumas peças podem chegar a até 1000 horas de trabalho e, Lady Amanda Harlech, colaboradora antiga de Galliano e veterana da Couture (trabalhou 18 anos na Chanel), conta que um terno da marca é feito por duas pessoas trabalhando o dia inteiro por duas semanas”.
Na produção de moda casual, seja ela em baixa, média ou alta escala, nenhuma roupa ou item de moda é ‘feito à mão’ dentro dos conceitos da alta costura, porém todas as peças de roupas ou acessórios de moda passam, inevitavelmente, por um processo onde mãos e pessoas são totalmente necessárias: a montagem e costura. Sendo assim, quando você ler por aí marcas de moda falando que suas peças são ‘feitas à mão’ vale investigar e questionar melhor o processo. Talvez o que a marca queira dizer é que seu processo é artesanal ou que um processo que já foi quase totalmente automatizado, como a estamparia, seja nesse caso manual.
Diferente da produção de industrializados como um pote de margarina ou requeijão, onde máquinas fazem praticamente todo o trabalho sem a necessidade de habilidades humanas por trás, não há possibilidade de uma peça de roupa chegar às lojas sem envolver o manuseio de máquinas de costura – mesmo as industriais (que convenhamos, são parecidíssimas com as amadoras de décadas atrás) e mãos de trabalhadores.
Atualmente, uma linha de produção automatizada já faz quase tudo de maneira dinâmica, rápida e com o auxílio de máquinas: o processo de fiação, tecelagem, estamparia, bordados, uma parte do processo de modelagem e o corte já foram maquinizados. Porém, depois das partes da peça cortadas, chegou a hora das mãos humanas entrarem em ação. A montagem e costura foram alguns dos poucos processos que não foram automatizados na indústria da moda (e é onde, frequentemente, há problemas relacionados às condições de trabalho). Pense num tênis da Adidas, uma empresa rica e altamente tecnológica: são necessários 200 par de mãos para confeccionar um de seus tênis [1].
Seja uma peça de uma rede de fast-fashion, seja uma peça feita pela costureira do bairro, seja uma peça feita por uma marca pequena, todas elas só conseguiram ficar prontas graças a um processo quase manual e com pessoas envolvidas. Isso sem contar que a automatização dos outros processos, por conta de custos, só pode ser aderida por grandes empresas, então todos os outros processos acabam sendo igualmente manuais em confecções e marcas de médio e pequeno porte.
Já sabe, da próxima vez que você ler por ai o termo “feito à mão”, e se não for uma das 20 marcas de alta costura ou se a marca não deixar claro quais os processos ela está se referindo ser um diferencial “feito à mão”, questione. Todas as mãos por trás de todas as peças e acessórios de moda precisam e devem ser valorizadas.
Notas de rodapé:
[1] Leslie T. Chang, As Garotas da Fábrica (2008) – pág. 93
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