Entre as 17 metas propostas, denominadas de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estão igualdade de gênero, energias renováveis, empregos dignos e crescimento econômico, inovação e infraestrutura, redução das desigualdades, consumo responsável, paz e justiça e, talvez a mais importante para que todos os 17 objetivos sejam alcançados até 2030, parcerias pelas metas.
Esse é a segunda vez que a ONU lança um “plano oficial para salvar o mundo”. A primeira foi no ano 2000, quando a organização lançou os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que tinham a erradicação da fome e da pobreza como maiores bandeiras. Embora, infelizmente, nenhuma das duas tenha sido de fato erradicada, os ODM produziram o movimento antipobreza de maior sucesso da história.
Como alguém que trabalha com/para/pela indústria da moda, acredito na relação dos ODS com todos aqueles que trabalham, admiram ou simplesmente vestem roupas (ou seja, uma parte considerável do planeta Terra). Afinal, é impossível pensar em desenvolvimento sustentável sem rever a forma como consumimos e produzimos.
De acordo com o Greenpeace, a indústria têxtil é uma das principais fontes de poluição da água em países como China e México. Isso sem falar nas condições de trabalho as quais muitos trabalhadores são submetidos: carga horária de trabalho longa e remuneração extremamente baixa, especialmente se levarmos em conta o valor pago por essa roupas.
Mas a boa notícia é que, se nos quesitos “empregos dignos”, “redução das desigualdades” e “paz e justiça” a moda anda deixando a desejar, a solução dos nossos problemas pode estar exatamente em outros pontos indicados nas 17 metas dos ODS, como, por exemplo, “consumo responsável”, “inovação e infraestrutura” e “igualdade de gênero”. São muitas as iniciativas de consumo consciente de moda que estão pipocando no Brasil e no mundo, basta dar uma passeada aqui no Modefica para descobrir uma porção delas.
Inovação e infraestrutura podem ser grandes soluções para resolver grande parte do problema da indústria da moda e, provavelmente, de todas as outras. Aliando tecnologia, pesquisa e criatividade, é possível criar soluções bastante impactantes no que diz respeito às formas de produção e também ao tempo útil, (re)utilização e descarte dos itens de moda.
A marca Freitag, por exemplo, conhecida por fazer um belo trabalho reaproveitando lonas de caminhão, desenvolveu uma pequena coleção sustentável e 100% compostável. O tecido biodegradável foi batizado de F-Abric e é feito a partir de fibras naturais que se decompõem no prazo de três meses após jogadas na terra e ainda servem como adubo.
Tem também o estúdio de design alemão Blond & Bieber http://blondandbieber.com/ (aliás, achei esse nome genial!), que utiliza microalgas como um corante de tecido sustentável. As donas do estúdio, Essi Johanna Glomb e Rasa Weber, denominaram o projeto de “Alagemy”, uma mistura das palavras Alga e Alquimia em inglês (dá para ver que elas também arrasam quando o assunto é naming!). Johanna explica que além de não prejudicar a natureza nem a saúde dos trabalhadores, é possível cultivá-la na quantidade exata, evitando assim a produção excedente e o desperdício.
Embora a maioria das grandes marcas aparentemente ainda não estejam muito preocupadas com a origem e o descarte dos materiais utilizados na produção de suas peças suas peças, já existem algumas iniciativas relevantes. A Adidas está aumentando a utilização de material DryDye (que não usa água na sua utilização), a empresa utilizou aproximadamente 4 mil metros de tecido DryDye até o final de 2014, economizando cerca de 100 milhões de litros de água. A Nike está seguindo a mesma rota e estabeleceu parcerias com as empresas DyeCoo e Far Eastern New Century, responsáveis pela produção de tecidos tingidos a seco.
Imagem: Blond & Biebier // Reprodução
Já quando o asssunto é igualdade de gêneros, a moda está dando um belo exemplo. São muitas as marcas trabalhando com coleções genderless e não é de hoje que os fashionistas reconhecem e abraçam causas relacionadas a gêneros e suas mais diversas possibilidades.
Nas últimas duas temporadas, diversas marcas trabalharam com coleções de “gênero neutro”, entre elas algumas consagradas como Armani, Gucci e Maison Margiela. A própria Miuccia Prada, doutora em ciências políticas e uma grande detectora do “espírito do tempo”, declarou no ano passado, durante a semana de moda de Milão, “pensar em pessoas, não em gênero”.
Imagem: Desfile Maison Margiela SS16 // Reprodução
Aqui no Brasil algumas marcas já estão criando coleções cujo gênero não é um fator relevante. A HULL é uma delas. Rodrigo Hull, criador da marca, acredita que a missão do designer é pensar nas redes traçadas entre as pessoas e os objetos e, portanto, assume o papel de focar nas relações humanas na hora de criar suas roupas, feitas para vestir pessoas, independentemente de sexo, idade ou tipo físico.
A Beira surgiu como uma marca “unissex”, mas logo seus criadores acharam o termo muito limitador e incapaz de representar o que eles faziam. Hoje os estilistas preferem chamá-la de uma marca plurisex ou muito sex, afinal, isso é quase irrelevante.
Os ODS não têm obrigação jurídica, eles devem ser compromissos morais, sociais e aspiracionais de cada indivíduo, visando uma vida mais abundante e confortável no nosso planeta. Isso quer dizer que depende de cada um de nós pensar sobre o que podemos fazer para alcançarmos coletivamente esse objetivo, afinal não é possível mudar o sistema sem antes mudarmos a nós mesmos.