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Made In Italy? Louis Vuitton E Gucci Foram Expostas Por Essa Afirmação Controversa

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  • Marina Colerato
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Marcas de luxo normalmente vendem uma imagem de produção artesanal, patrimônio, qualidade superior e distinção. Corroborando com essas afirmações está lá o "made in Italy" nas solas dos sapatos, óculos e bolsas, que chegam a custar quatro dígitos ou mais.

Como ressalta uma recente reportagem do The Guardian, essa é uma imagem polida por um dos maiores orçamentos publicitários do mundo. Em 2016, o grupo Louis Vuitton Moet Hennessy (LVMH) investiu $4.4 bilhões (mais de R$14 bilhões) em marketing de suas marcas mais renomadas como Givenchy, Louis Vuitton e Tag Hauer.

O outro lado da moeda, porém, foi exposto recentemente e colocou o grupo LVMH e o Kering Group, detentor de marcas como Gucci e Stella McCartney, em saia justa. Primeiro, a reportagem exclusiva de Alexandra Lembke revelou que os sapatos da Louis Vuitton são produzidos inteiramente na Transilvânia. Os pares são exportados praticamente prontos; na Itália só se coloca a sola – e, por isso, os sapatos podem ser marcados como feitos na Itália. Somarest, a fábrica subsidiária da Louis Vuitton na Romênia é um segredo guardado a sete chaves.

Um time de documentaristas de uma TV francesa já tinha abordado o tema em 2014, mas eles não conseguiram entrar na fábrica para comprovar as suspeitas. Agora, de dentro da Somarest, Lembke pode ver todos os sapatos prontos, só faltando as solas, sendo encaixotados e despachados para a Itália ou França. “Uma porta-voz da fábrica finalmente concordou em me encontrar para discutir detalhes de sua produção. Os gerentes seniores, ela disse, são franceses e os materiais utilizados também são importados da França. Após a montagem, ela explicou, a fábrica exporta os produtos para França e Itália, onde eles são “terminados” para que eles se qualifiquem para um rótulo “made in France” ou “made in Italy” de acordo com a legislação da União Européia”, explica a repórter.

Segundo a reportagem, a LVMH estabeleceu essa subsidiária na Romênia em 2002 para aproveitar os baixos salários do país. De acordo com a Clean Clothes Campaign, o salário mínimo na Romênia é de cerca de $113 por mês (R$ 370). “A essas taxas de salários, a produção de vestuário na Romênia é mais barata do que em outros países da UE, mas os preços mais baixos não significam menor qualidade, de acordo com Ioana Ciolacu, uma das principais estilistas romenas. “Nem deve ser confundido com trabalho infantil, sweatshops e todas as histórias de horror que vemos acontecendo na China ou Bangladesh”, disse ela.”

Essa não é uma prática exclusiva da Louis Vuitton. Logo depois das revelações do The Guardian, o grupo Kering, responsável por marcas como Gucci, Yves Saint Laurent, Alexander McQueen, Balenciaga, entre outras, foi acionado na justiça por Selima Optique, uma varejista de óculos que tem lojas em Santa Monica, Nova York e Paris, por publicizar os óculos das marcas do grupo como “feitos na Itália” quando, na verdade, eles são produzidos na China.

“Na verdade, os produtos dos réus, ou substancialmente todas as partes de seus produtos, são fabricados na China e (na melhor das hipóteses) enviados para a Itália para montagem e embalagem finais, e depois exportados”, diz o processo, arquivado no início da semana e reportado em primeira mão pelo The Fashion Law. Mesmo que partes dos óculos fossem montadas na Itália, a reivindicação “Made in Italy” ainda violaria uma lei italiana rigorosa aprovada em 2009, que busca proteger a reputação dos produtos de luxo italianos ao exigir que “apenas os produtos inteiramente feitos na Itália (planejamento, fabricação e embalagem) podem usar o rótulo de feito na Itália”, diz o artigo do The Hollywood Reporter.

Enquanto algumas marcas já assumiram suas produções de itens de luxo na China, outras aproveitam brechas na lei para atestar qualidade superior a partir de uma suposta produção italiana // Divulgação

Enquanto a Kering negou as acusações, a Louis Vuitton não teceu comentários. Porém essa é uma prática amplamente difundida na fabricação e confecção de itens de luxo, onde a produção é terceirizada para países com legislações e custos trabalhistas mais favoráveis, e apenas finalizados na Itália ou França para permitir essa rotulagem que confere mais prestígio às peças.

Como Lembke explica, o parlamento europeu votou em etiquetas obrigatórias de “feito em” em 2014 para se alinhar às questões latentes da produção globalizada. Para os bens produzidos em mais de um país, o país de origem é aquele em que os itens foram submetidos ao “último processamento substancial, economicamente justificado”. Essa legislação européia permite a prática atual das marcas de luxo e levanta questionamento de até que ponto o preço e uma etiqueta de “feito em” realmente significa alguma coisa além de um “atestado de riqueza”.

Algumas marcas já assumiram a realidade de sua produção, Prada e MaxMara são duas delas. Nos resta agora saber quando as outras marcas de luxo farão o mesmo, adotando práticas e cadeias de produção mais transparentes, atitudes nas quais elas estão falhando miseravelmente.

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