A quantidade estrondosa de têxteis descartados, emissão de CO2, uso de água e outros recursos naturais, contribuição para poluição e mudanças climáticas, além de questões de trabalho escravo e infantil, foram as pautas levadas para o debate em âmbito governamental mirando, principalmente, o segmento do fast fashion, representado no Reino Unido por marcas como Primark, Misguided, Topshop, Boohoo e Asos.
Entre as 11 recomendações do Comitê estavam a cobrança de um centavo (1p) por peça para financiar projetos de coleta e reciclagem de roupas, a proibição do incinaramento ou descarte de têxteis em condições de uso em aterros sanitários, além de comprometimento mandatório com metas ambientais para marcas com um volume de negócios acima de 36 milhões de libras. Nenhuma sugestão foi acatada e cada negativa veio com sua própria justificativa.
Sobre a decisão, Mary Creagh, presidente da EAC afirmou que o governo está “demonstrando estar satisfeito em tolerar práticas que prejudicam o meio ambiente, tendo acabado de se comprometer com as metas líquidas de emissões zero. Ações urgentes precisam ser tomadas para mudar o modelo de negócios do fast fashion que produz roupas baratas que custam à Terra ”.
O relatório, Fixing Fashion, trouxe dados importantes para colocar a indústria da moda inglesa em perspectiva. A população do Reino Unido consome mais roupas novas do que qualquer outro país europeu; quase o dobro do que é consumido na Alemanha e na Itália. Uma em cada três mulheres jovens, o maior segmento de consumidores do Reino Unido, considera “velha” roupas que foram usadas uma ou duas vezes. Em 2018, 300 mil toneladas de têxteis foram queimados ou despejados em aterros sanitários.
Apesar do banho de água fria, a iniciativa do EAC e algumas das solicitações feitas por meio do relatório podem servir de inspiração para movimentos de moda sustentável espalhados pelo globo. Entre elas, destaco aqui algumas delas:
– Política tributária que beneficie marcas e empresas trabalhando com reutilização, reparo, reciclagem e produtos de menor impacto ambiental;
– Maior efetividade da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) para incentivar marcas e oficinas terceirizadas trabalharem juntos para resolver o problema do desperdício e descarte têxtil. Com a PNRS fortalecida, marcas de moda devem ser obrigadas a implementarem um plano de responsabilidade extendida pelo produto, criando uma rede de logística reversa;
– Proibição total de descarte de roupas novas, seja por meio de incineração ou descarte em aterro;
– O debate sobre moda sustentável e novos modelos de negócio serem obrigatórios nos cursos de moda e deisgn.
Outra fonte de inspiração pode vir da Noruega. Criado para policiar a Lei de Controle de Marketing da Noruega, a agência de Autoridade do Consumidor da Noruega concluiu que campanhas como a Conscious Collection, da H&M, dão aos consumidores a impressão de que suas roupas são mais sustentáveis do que realmente são. O grupo está em contato com a marca e pode abrir um prescedente importante para o uso impróprio do marketing verde. Apesar de não se comparar com os impactos de âmbito governamental, proibir e penalizar o greenwashing pode se revelar uma estratégia paralela importante para empurrar a indústria para fora da zona de conforto.