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Filantrópicos Bilionários São Parte do Problema, Não da Solução

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Jeff Bezos, CEO da Amazon e o homem mais rico vivo, ganhou recentemente as manchetes depois de se comprometer a doar US$ 10 bilhões (R$ 50 bilhões) para um novo Bezos Earth Fund com objetivo de ajudar no combate às mudanças climáticas. É uma das maiores doações filantrópicas da história. Embora os detalhes sobre o tipo exato de trabalho que serão financiados sejam escassos, Bezos pontuou em seu anúncio no Instagram que a nova iniciativa global “financiará cientistas, ativistas, ONGs - qualquer esforço que ofereça uma possibilidade real de ajudar a preservar e proteger o mundo natural".

Embora o interesse de Bezos pelas mudanças climáticas seja louvável, seu mais recente empreendimento é muito mais problemático do que parece inicialmente. Alguns já chamaram a atenção para a ironia de sua decisão, dada a enorme pegada de carbono e a dependência de consumo barato contínuo da Amazon.

Além disso, existem inúmeras controvérsias em torno das condições salariais e de trabalho dos funcionários das suas empresas, a mais recente delas sendo a decisão de Bezos reduzir os benefícios de saúde para os trabalhadores de meio período em seus supermercados Whole Foods, economizando [no total] o equivalente ao que ele ganha em poucas horas.

A contribuição de Bezos destaca os perigos de contar com a filantropia bilionária às custas da transformação social democrática necessária para lidar adequadamente com a crise climática e ecológica. Ao contribuir com quantias tão significativas, a elite rica exerce uma influência cada vez maior sobre as organizações que ela controla, as plataformas de mídia e as discussões sobre políticas públicas.

Talvez o mais importante seja que bilionários como Bezos representam um sistema socioeconômico fracassado que reforça a desigualdade e agrava a degradação ambiental.

Poder de consolidação

Não é segredo que a elite rica do mundo – os 26 mais ricos, que possuem mais riqueza que a metade mais pobre da humanidade – exerce considerável influência sobre nossa vida social e política. Eles usam sua enorme riqueza para moldar políticas e eleições, e até mesmo as informações que recebemos através da grande mídia. Jeff Bezos é dono do The Washington Post, por exemplo, enquanto o magnata da mídia Rupert Murdoch possui e controla 70% da circulação de jornais da Austrália e vários jornais nacionais no Reino Unido.

Talvez o mais importante seja que bilionários como Bezos representam um sistema socioeconômico fracassado que reforça a desigualdade e agrava a degradação ambiental.

De maneira semelhante, os bilhões em contribuições de caridade de indivíduos como Bezos e Bill Gates permitem que eles controlem o que organizações como o novo Bezos Earth Fund fazem e como elas funcionam. Como o economista americano Robert Reich observa, é através de tais empreendimentos que os ricos “convertem seus ativos privados em influência pública”.

Nos campos da ciência política e da sociologia, figuras intelectuais, como C. Wright Mills, há muito apontam as implicações antidemocráticas de pessoas ricas e interesses comerciais que exercem um poder político desproporcional.

Talvez o aspecto mais problemático da filantropia bilionária seja o fato de indivíduos como Bezos serem uma parte essencial dos problemas que estão procurando resolver. Eles são produtos inevitáveis do capitalismo neoliberal, um sistema socioeconômico baseado em crescimento sem fim, privatização dos bens comuns e acumulação de capital em cada vez menos mãos.

Como discuti anteriormente, um crescente corpo de evidências aponta para uma associação entre extrema riqueza, desigualdade e degradação ecológica.

O devasso estilo de vida dos ricos é altamente intensivo em consumo de recursos e de carbono: estima-se que as emissões causadas pelo estilo de vida do 1% mais rico da humanidade sejam 30 vezes maiores do que as emissões dos 50% mais pobres. Além disso, pesquisas sugerem que quanto mais desigual uma sociedade, maior sua pegada ecológica. Isso ocorre porque a extrema lacuna entre os que “possuem” e os que “não possuem” pressiona o último grupo a melhorar seu status social por meio do aumento do consumo material.

O que podemos fazer? Limite a extrema riqueza

Os bilionários e a desigualdade extrema de riqueza, de maneira mais geral, são hostis ao bem-estar social e ecológico. Daí o recente apelo do proeminente economista francês Thomas Piketty para que taxem os bilionários até não poderem mais.

Em vez de contar com as contribuições dos ultra-ricos do mundo, adotar medidas para reduzir radicalmente a desigualdade socioeconômica torna-se um ponto de partida. Isso pode ser alcançado por meio de esquemas de tributação progressivos, como o sugerido por Piketty e políticos progressistas, como Bernie Sanders, ou aumentando o salário mínimo e introduzindo um salário máximo. Os fundos gerados poderiam ser usados para apoiar iniciativas como o Green New Deal.

Não podemos confiar na generosidade da elite rica do mundo, por mais bem-intencionados que sejam. A quantidade desproporcional de riqueza e poder político que eles possuem – e seu consumo excessivo dos recursos do mundo – estão no coração de nossos problemas ecológicos atuais.

Texto escrito por Heather Alberro. Artigo originalmente publicado em The Conversation e traduzido para o Modefica sob licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.

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