Seguindo nesse pensamento, já parou para analisar quem fez, como e de onde vieram sua camiseta, sua calça, suas roupas em geral? Gostaria que as empresas fossem mais transparentes sobre essas informações fundamentais?
Afinal, não dá mais para simplesmente ignorar cada confirmação que nos aparece sobre condições desumanas de produção, tanto das roupas quanto dos outros produtos que compramos todos os dias, seja em países longínquos e bem pobres, seja no Estado vizinho. Não podemos nos esquecer de que o nosso poder de compra é praticamente um voto de confiança e uma maneira de autenticar o trabalho das marcas.
Infelizmente, as roupas que vestimos têm aparecido bastante nas notícias, e não para contar boas histórias. Dados alarmantes sobre o trabalho exploratório na indústria da moda pelo mundo não é de agora. São casos de incêndios, desabamentos, jornadas exaustivas de trabalho, salários baixíssimos, doenças e até suicídios.
Em 24 de abril de 2013, um acidente em Bangladesh, o colapso do edifício Rana Plaza, trouxe o assunto novamente à tona quando mais de 1.200 trabalhadores morreram e outros 2.500 ficaram feridos. Os proprietários das fábricas de roupas – que funcionavam de maneira irregular no prédio, produzindo peças para todo o mundo – ignoraram as rachaduras nas paredes percebidas no dia anterior da tragédia. Nos escombros, etiquetas de marcas como Mango, Benetton, Primark, Walmart, e várias outras que terceirizam a sua produção nesses locais em busca da mão de obra absurdamente barata, custe a quem custar.
O incidente, que teve uma enorme repercussão mundial, trouxe algo além, algo de positivo no meio da tragédia. As pioneiras em moda ética e sustentável Carry Somers, britânica, e Orsola de Castro, italiana, que já atuam na área desde a década de 1990 com suas marcas que focam em upcycling e trabalhos que empoderam comunidades de artesãos, viram nessa situação a necessidade de fazer algo para aumentar a conscientização sobre as mazelas da indústria da moda.
Mazelas essas que dizem respeito não só em relação a seus trabalhadores, mas também em relação à degradação ambiental causada pela produção em massa: poluição, devastação de terras, uso irracional dos recursos naturais, dentre outros. Elas partiram da premissa de que reconectar as pessoas com quem faz as nossas roupas vai ajudar a trazer as mudanças necessárias para a indústria da moda.
Surgiu então o movimento Fashion Revolution (Revolução da Moda), que teve o primeiro Fashion Revolution Day (Dia da Revolução da Moda) em 24 de abril de 2014, data que marcou um ano do acidente em Bangladesh. #InsideOut (#DoAvesso) e #WhoMadeYourClothes (#QuemFezSuasRoupas) foram as hashtags da campanha mais usadas no twitter naquele dia.
Funcionou assim: pessoas em todo o mundo, de anônimos a celebridades, profissionais, amantes da moda, consumidores, imprensa e ativistas, participaram com suas fotos com peças de roupas ao avesso perguntando às marcas quem foram os responsáveis pela produção de suas roupas, um ato para trazer de volta rostos que, até então, nos passam despercebidos na hora das compras. Também, ao olharmos as etiquetas, nada consta sobre as condições de trabalho e os métodos usados para se proteger o meio ambiente (se é que eles existem).
Daí pra frente, diversos países em todos os continentes aderiram à campanha, incluindo o Brasil. Hoje, já são mais de setenta. Aqui o movimento começou com a designer de moda Fernanda Simon, que morava em Londres e, ao voltar para o Brasil, assumiu de vez a coordenação da campanha no país.
Em janeiro de 2014, quando nos conhecemos e tive a oportunidade de assumir como Responsável de Comunicação da campanha, criamos estratégias para criar e divulgar o Fashion Revolution Brasil e já sentimos muito apoio das pessoas online. Conseguimos levar o projeto para São Paulo, durante seu lançamento oficial no evento Eco Era, da Chiara Gadaleta, e também para Goiânia, na UFG, durante o NDesign 2014, e depois em mesas redondas organizadas em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Nossa proposta é expandir o alcance da campanha para todo o Brasil.
Em todo o mundo, o Fashion Revolution acontece por meio de eventos e discussões on e offline, desfiles, mesas redondas, workshops, palestras, bazares, bate papos, vale tudo para levantar as temáticas da produção e do consumo de moda à tona, destacando o que precisa ser mudado, e, claro, salientando as ideias, projetos e os profissionais que já trazem novos paradigmas e o que mais pode ser feito, com criatividade e entusiasmo, para reafirmar a moda como ela é: inspiradora e um recurso poderoso para provocar e trazer mudanças reais. E que ela caminhe, a cada dia e com o apoio de todos, para se tornar uma força para o bem, com a sustentabilidade e a ética enraizadas em todas as suas etapas.
Agora em 2015, com certeza o movimento será muito maior. O novo tema já foi lançado, seguindo a proposta de 2014, #WhoMadeMyClothes (#QuemFezMinhasRoupas), e podemos aguardar ainda mais novidades e participações. Faça você também parte da campanha: seja curioso, pergunte às marcas, descubra, faça algo a respeito. Divulgue, pesquise, busque informações, pratique a cada dia o consumo consciente, compre apenas o que for realmente usar, de marcas que comprovadamente atuam de maneira ética e colaborando com as pessoas e o planeta em que vivemos. Nós garantimos que a sensação de apoiar os trabalhos que merecem é de satisfação total.