O primeiro Backstage do ano vem com sabor diferente: dessa vez, quem conduz o papo são as hosts da Voice 176, Nathalia Anjos e Larissa Henrici, porque, dessa vez, Marina Colerato está na bancada das entrevistadas, junto com Larissa Roviezzo, co-criadora da consultoria para práticas sustentáveis Regenerate Fashion, e Juliana Picoli, especialista em ACV (Análise de Ciclo de Vida) e pesquisadora na FGVces (Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas). O trio participa do episódio para apresentar o relatório inédito Fios da Moda: Perspectiva Sistêmica Para Circularidade, responsável por analisar, de forma qualitativa e quantitativa, os impactos socioambientais da produção das três fibras mais utilizadas na indústria da moda (algodão, poliéster e viscose) pela perspectiva do Sul Global.
O papo começa voltando um pouco no tempo: como surgia a ideia do relatório e como ele pôde sair do papel. Marina nos leva a 2018, quando o edital global do então Instituto C&A (atual Laudes Foundation) reconhecia a carência de dados sobre economia circular e destacava a importância do aspecto social nesse meio. “O relatório é o primeiro passo para uma conversa mais robusta sobre como a gente transita para uma economia circular considerando as particularidades do Brasil”, explica Marina. A confirmação da necessidade de se tangibilizar os impactos desse território venho algum tempo depois, quando o projeto do relatório foi um dos quatro escolhidos globalmente e o único do Brasil.
Ao contar um pouco sobre a formação da Regenerate Fashion, Larissa destaca a importância de olhar para as peculiaridades do Sul Global, algo que é destaque no relatório, afinal, o Brasil não só detém a rede produtiva mais completa do ocidente, como também é celeiro das fibras, um dos maiores exportadores de algodão Better Cotton Iniciativa e grande consumidor das peças produzidas aqui mesmo.
Outro ponto relevante do relatório é o estudo sobre a análise do ciclo de vida das fibras, feito pela equipe da FGVces e coordenado por Juliana. Ela destaca: “a gente pode usar essa ferramenta para quantificar os impactos ambientais e verificar se o ‘fechar o ciclo’ proposto pela economia circular é, de fato, melhor do ponto de vista ambiental”.
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Não existe fórmula
A resposta para transformar a indústria da moda em uma indústria mais circular não tem fórmula, não tem “100 passos”, e muito menos promove uma dicotomia entre vilãos e mocinhos. O relatório, e as entrevistas deixam bem claro que existem caminhos para práticas mais sustentáveis e existe a necessidade de se investir em conhecimento no setor. “Os dados foram oferecidos para estimular as pessoas a fazerem essa análise comparativa a partir das necessidades da empresa, do designer, do produto”, explica Larissa.
Elas também pontuam que sustentabilidade não é sinônimo de despesa. “Quando falamos em sustentabilidade, parece que vai custar mais para a empresa, mas nem sempre. Pode ser sobre otimizar processos”, exemplifica Juliana. A expressão “novas tecnologias” também soa como algo distante, mas práticas como pontos de coleta de roupas antigas ou serviços de reparação de roupas já são oferecidos como recurso para tornar o ciclo de vida da roupa mais circular.
Marina aproveita para ressaltar uma conclusão importante do estudo: precisamos responsabilizar os diversos atores da rede produtiva, considerar todas as etapas como parte integrante dos impactos socioambientais das empresas varejistas e buscar legislações mais claras e comprometidas com a sustentabilidade. “O relatório também tem esse teor de ‘vamos conversar sobre responsabilidade compartilhada’”, explica, “reconhecendo que alguns atores, pelo seu tamanho, seu volume e sua potência em deter recursos têm mais responsabilidade que outros”.
Por fim, as hosts e as entrevistadas nos dão um gostinho do que ainda está por vir: além do filme e da música que foi recentemente lançada, também estamos preparando várias ações da campanha de lançamento, como o lançamento do workshop e ações em âmbito coletivo, legislativo e artístico.