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Excesso de Sushi: Filme Revela que Ânsia por Salmão Barato Ameaça Espécie de Extinção

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  • Juliana Aguilera
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O rodízio barato de sushis e sashimis, regado à salmão, somado ao exponencial consumo do peixe, está colocando em risco a vida marinha. É este o alerta que a marca de roupas e artigos esportivos Patagonia dá no seu novo documentário Artifishal.

Responsável por elucidar o impacto ambiental da produção de salmão Chinook em cativeiros na costa oeste dos Estados Unidos, o longa coloca em cheque o hiper consumo da espécie nativa da região. Sob ameaça de extinção e, por conseguinte, de baleias orcas que se alimentam do salmão, especialistas narram a importância de se criar ações para pressionar políticas públicas e garantir a sobrevivência e equilíbrio da vida marinha. Dirigido por Josh Murphy e premiado no Festival de Tribeca 2019, Artifishal prova que “o caminho para extinção está pavimentado de boas intenções”.

A criação do salmão em cativeiro para consumo e equilíbrio do ecossistema parece uma boa ideia inicialmente, mas através de estudos de caso e observação do ambiente marinho local, o longa desmente logo de cara essa premissa. Em situações de baixa de peixes, acarretadas pela pesca predatória, construção de barragens e extração de recursos, por exemplo, os salmões selvagens tendem a ter melhores condições genéticas para sobreviver e procriar nos locais afetados quando comparados a outros peixes, mas quando em contato com a espécie de incubação sua recuperação é ameaçada. Outro ponto de desequilíbrio deste cenário, lembrado pelo documentário, é a crise climática, que promove o aquecimento das águas e prejudica espécies de água fria, como os salmões Chinook.

 

Como o salmão de cativeiro promove o desequilíbrio ambiental

Um dos pontos ressaltados em Artifishal é que o comportamento dos animais criados em cativeiro e dos selvagens se diferencia no berço, o que prejudica a saúde da espécie. Salmões selvagens prosperam no ambiente através da seleção natural – o que garante que apenas os mais geneticamente aptos se reproduzam. Graças à diversidade genética e histórica, eles conseguem se adaptar melhor às mudanças mesmo quando seu habitat é comprometido. Já peixes de incubadoras podem ser gerados e passar o período de desova em habitats artificiais ou em gaiolas em águas marinhas públicas. Nestas condições, eles são mais fracos e menos capazes de se adaptar e sobreviver no ambiente natural. Eles tendem a amadurecer em idades mais jovens e ter tamanhos menores que os selvagens.

Peixes criados em águas marinhas públicas têm facilidade de escapar das gaiolas e se misturar na natureza, pondo em risco os salmões selvagens pelo aumento da competitividade por alimento no habitat e através do cruzamento nas áreas de desova. Os peixes criados em cativeiro transmitem genes que não possuem a facilidade de adaptação à população selvagem. Eles também podem passar parasitas e doenças ao outro grupo, contraídos por pesticidas utilizados para controlar sua criação.

Outros dois fatores negativos provenientes do mix dessas duas espécies são, primeiro, o aumento da quantidade de salmão no meio ambiente significa, em um primeiro momento, o aumento do número de predadores. Aliado à problemática de dificuldade de mutação e sobrevivência da espécie, o cenário se desequilibra ainda mais com a questão da baixa taxa de sobrevivência da prole mista – ela se reduz em até 50% somente na primeira geração. Isso leva à segunda questão: com a baixa da prole, a queda de disponibilidade de comida para os predadores. Em outras palavras, o aumento de salmão de incubação no meio natural atinge não só os Chinooks selvagens como também desregula toda a cadeia alimentar local.

Mesmo diante destas comprovações, há quem defenda que a presença de piscicultura ainda é um meio rápido de aliviar o crescente número de orcas famintas na costa leste americana. Mas existem cientistas especializados na espécie que discordam fortemente. O documentário mostra que, com base em pesquisas recentes sobre a alimentação de orcas, o aumento da liberação de salmões criados em cativeiro seria de pouco benefício para as baleias. Isso porque, devido à mão humana, esse tipo amadurece mais rápido e é menor que o tipo selvagem e, por isso, não atende as necessidades calóricas das orcas. Elas precisam do salmão Chinook grande e selvagem, cada vez mais escasso na região.

Impactos econômicos a longo prazo

Embora muitas pessoas acreditem que os viveiros de peixes são pagos por vendas de licença de pesca, o documentário revela que as fontes de financiamento vêm, na verdade, das taxas pagas por cidadãos comuns. As incubadoras são administradas por entidades não governamentais estaduais, federais, privadas e tribais. Através das contribuições, o cidadão paga uma conta de um sistema que leva à extinção de peixes selvagens e custa bilhões de dólares no processo – estamos falando de US$ 87 milhões (ou R$ 361 milhões). O atual plano produz cerca de 60 milhões de salmões Chinook por ano. 

A diminuição de incubadoras do peixe podem acarretar na diminuição de oportunidades econômicas na região a curto prazo, mas Artifishal demonstra que, a longo prazo, esse mix de espécies no meio marinho acabará com o salmão e, consequentemente, prejudicará igualmente a economia. Por outro lado, um investimento na recuperação dos peixes selvagens é a única opção para equilibrar o meio ambiente e garantir que as próximas gerações possam apreciar os peixes de água fria.

Por meio  de estudos de outras bacias hidrográficas, o documentário traz boas notícias: se a recuperação da população de peixes for feita, com a extinção de incubadoras e barragens nos rios locais, o equilíbrio da espécie acontecerá de forma rápida e robusta. Foi assim que aconteceu com diversos rios dos estados de Washington, Montana e Oregon. Isso significa uma ampliação de oportunidades para a economia local a longo prazo. 

As ações devem começar já

A realidade é cruel: as orcas precisam de alimento e precisam dele agora. Além de pensar na reprodução e recuperação da espécie selvagem, ações econômicas importantes como a pesca a mar aberto também precisam ser levadas em conta. A escassez do salmão Chinook acontece não só na costa oeste de Washington, mas também mais ao sul, na ilha de Vancouver, no Canadá. Atualmente, a pesca nesta região é responsável pela captura de 70% da espécie, que é uma fonte importante de alimentação para as orcas. Mover a pesca para a foz de rios e empregar técnicas de despesca parcial 1técnica de retirada dos peixes grandes de viveiros, deixando os pequenos, que ainda não possuem o peso ideal de consumo, para outro momento permite que a economia local não sofra danos e as baleias consigam se alimentar. 

Nos EUA, há uma movimentação de ativistas chamando atenção para o problema e para as ameaças de extinção do salmão Chinook.

Já as soluções de longo prazo para recuperação do habitat envolvem remoção de barragens e redução de incubatórios. O documentário traz exemplos de outra ações já realizadas nos estados vizinhos a Washington para comprovar a melhora do ecossistema local. No estado de Montana, por exemplo, a diminuição de incubatórios promoveu um aumento de mais de 800% da espécie de truta arco-íris. Ainda que os resultados da recuperação do ambiente dependam de quão sério foi o dano sofrido pelo peixe original, se as quatro represas do rio Klamath, em Washington, forem removidas e as incubadoras diminuírem, o projeto será considerado uma das maiores restaurações de rios da história norte-americana. 

Os planos atuais, no entanto, são de continuar o programa de incubação na região por pelo menos mais oito anos após a remoção das barragens. É por este motivo, e outros apontados ao longo do documentário, que Artifishal também faz uma chamada para ação na sua página oficial. Por meio da petição online, você pode dizer aos empresários e políticos da região para pararem de desperdiçar dinheiro com planos fracassados e investir em soluções baseadas na ciência para salvar salmões e orcas ameaçadas. Por hora, o documentário não tem previsão de chegar ao Brasil, mas você também pode pedir para passar o filme por aqui. Apesar de relatar uma situação local, a produção de peixes para atender ao hiper consumo é uma questão global que afeta, de forma parecida, diversos ambientes2 Leia mais: Piscicultura em tanques-rede: impactos e consequências na qualidade da água .

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