O Backstage é o podcast do Modefica para falar sobre moda a partir de diversos pontos de vista e para muito além do que vemos nas passarelas, nas revistas, no Instagram e nas manchetes. Sempre com convidadxs especiais contando sua trajetória, e junto com nossa editora Marina Colerato, o Backstage debate indústria, carreira, questões de gênero e raça, temas quentes e futuro da moda. Ouça no Spotify ou iTunes.
Amélia Malheiros tem 40 anos de trajetória no varejo. Só na Cia Hering, são 25 anos. Nos últimos 3 anos, está à frente da Fundação Hermann Hering, que vem se transformando e ganhando visibilidade, principalmente por conta do Trama Afetiva, projeto da fundação em parceria com Jackson Araújo. Amélia também está envolvida no movimento Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC), há 13 anos como voluntária e atualmente como gestora. Com um profundo conhecimento do funcionamento da indústria, seu principal desafio tem sido unir sua visão de mundo com a promoção de mudanças reais na moda.
Trabalhando mais ativamente na área cultural, Amélia ressaltou a importância da sociedade civil aportar na cultura, qualquer valor que seja, numa época onde os mecanismos de incentivo à cultura estão cada vez mais escassos. O Brasil tem uma das menores culturas de doações, o que, para Amélia, “é um paradoxo, a gente reclama tanto de pagar imposto. Então a gente poderia tirar uma fatia do nosso imposto de renda, aquele valorzinho, 3 ou 6%, ou quanto eu quiser doar, do imposto devido, eu posso aportar em qualquer projeto de meu interesse”, destaca ela. Nos últimos 3 anos, em média, é um decrescimento de 30% de doações em todas as causas sociais.
Mas Amélia também ressalta que a importância da doação não está só no dinheiro. Tempo, conhecimento, boa vontade podem ser doadas a favor da sociedade. A doação pode estar no movimento mais simples, como pegar lixo da rua durante a caminhada semanal (alô plogging). É neste lugar de cuidado ao outro onde Amélia acredita estar a transformação tão necessária que gostaríamos. “Quem é ativista hoje precisa ter esse olhar de cuidado para o outro”, alertou. Não dá só para exigir do outro a mudança.
Na moda, é a mesma coisa. “Em Santa Catarina, estamos num movimento colaborativo e participativo. A gente coloca as questões na mesa e não se vê mais apenas como concorrentes”, explica ela. Para Amélia, inclusive, a almejada revolução 4.0 na indústria não é sobre máquinas. É sobre trazer o ser humano para o centro das coisas. “Na moda, quando você realmente entender o sentido do fast fashion, não é fazer moda rápida, barata, para jogar no lixo. É entender o comportamento único de um consumidor e trazer para uma indústria que se fez em escala, em massa”, explica ela. No sentido do eu-no-mundo, Amélia acredita que a revolução 4.0 é o verdadeiro autoconhecimento – abrir as gavetas vai trazer a revolução do eu.
Com passos que vêm de longe, Amélia pode nos trazer uma visão linha do tempo sobre as mudanças (ou não-mudanças) da indústria da moda. Afinal, estamos caminhando? Dá o play para ouvir a visão dela, sem linearidade e sem excesso de romantismo, sobre isso. “Essa indústria da moda que a gente quer não existe, ela precisa ser criada”, finaliza Amélia. Deixem seus comentários abaixo e se tem algum nome interessante como sugestão para participar do podcast, conta também.