O Backstage é o podcast do Modefica para falar sobre moda a partir de diversos pontos de vista e para muito além do que vemos nas passarelas, nas revistas, no Instagram e nas manchetes. Sempre com convidadxs especiais contando sua trajetória, e junto com nossa editora Marina Colerato, o Backstage debate indústria, carreira, questões de gênero e raça, temas quentes e futuro da moda. Ouça no Spotify ou iTunes.
Heloisa Faria começou sua marca homônima em 2010 depois de três anos no coletivo P’tit, que reaproveitava e transformava roupa bem antes de conhecermos a palavra upcycling. Antes disso, lá no começo dos anos 2000, a estilista trabalhou como assistente de estilo para Karlla Girotto e foi estagiária de marketing da Ellus.
Formada em Desenho de Moda na Faculdade Santa Marcelina, Heloisa experimentou como era lançar uma marca quando não existiam redes sociais e tudo acontecia no mundo offline. Quase 10 anos depois, ela ainda gosta dos desfiles e usa esse momento como extensão do seu processo criativo. Mas ela também sabe aproveitar das mídias e reconhece que elas foram essenciais para fazer as marcas de moda repensarem seus posicionamentos e seu papel no mundo.
Há 3 anos, sua loja-ateliê na Vila Madalena se tornou um espaço de encontros, recebendo novas marcas em eventos ou pop ups temporárias, além de disponibilizar para locação seu acervo com diversos itens pessoais, incluindo garimpos de brechó por ai. O espaço também abriga a maior parte da produção da marca, pouca coisa é feita fora – quando a produção é terceirizada, vai para uma pessoa amiga especialista em técnicas como tricô e bordado.
Pioneira, tentou abandonar o upcycling logo que saiu do coletivo e abriu sua marca, porém, amante de brechó como é, rapidamente entendeu que a graça, para ela, não era só fazer novo com novo e retomou a criar a partir do que já foi usado ou estava parado, sejam peças, sejam tecidos. Também passou a entender a marca como uma ferramenta para alcançar outras coisas: de produção sob demanda à possibilidade de assinar figurinos.
Sob demanda é, inclusive, uma forma que Heloisa pensa como será não só sua marca, mas a moda no futuro. Se comprar roupas não faz sentido pra ela, porque faria para outras pessoas? Com essa pergunta em mente a ideia da estilista é buscar cada vez mais significado na sua criação, alinhado ao desejo de cada pessoa, por meio de peças atemporais e mentalidade do slow fashion.
Porém, seria errado afirmar que a Heloisa Faria já está num lugar confortável. Equilibrar as contas e viver apenas da marca ainda é um sonho. Além disso, apesar de reconhecer seus privilégios, ela sabe que ser mulher, criativa, na moda, não tem muito espaço para zona de conforto. A moda sofre com a desigualdade de gênero igual todas as outras indústrias – se por um lado elas não são entendidas como líderes de negócios, por outro também não são percebidas como criativa e artisticamente orientadas.
Para a estilista, a marca é um espaço para levantar bandeiras como essa – e outras. Num presente cheio de tensões políticas, não dá para ser apolítico. “Quem finge que nada está acontecendo, vai perder o bonde”, afirma ela categoricamente.
Dá o play e ouça essa conversa cheia de questionamentos, pitadas de polêmica e muita sinceridade.