Questionar e lidar com os excessos da indústria da moda. Esse é o objetvo do Re-Roupa, projeto criado por Gabriela Mazepa, em 2013, época que o upcycling era pouquíssimo discutido no Brasil. Foi a experiência no curso de arte e têxtil, em uma faculdade da França, que a impulsionou a questionar os processos produtivos e imaginar outras possibilidades de criação e produção de produtos. A primeira vez que Gabi trabalhou com roupas descartadas foi no seu projeto de graduação. “Eu contava a história por trás da roupa, a história da vida da pessoa, preocupada com o lance da memória afetiva”, relembra ela.
O que faz com que uma pessoa guarde roupas que não usa por anos? Ou que as descarte assim que enjoa de usá-las? Foi esse momento de perguntar para as pessoas sobre suas roupas, que Gabriela percebeu o mundo do desperdício: “As pessoas têm mais roupas do que de fato usam e o mercado produz mais roupa do que é consumido”. Prova disso é que, anos depois, Re-Roupa e a carioca Farm se uniram para um projeto que começa a tatear, por meio de pequenas produções de roupas feitas com roupas e retalhos não comercializadas, uma forma de dar conta dos excessos das grandes marcas.
Além de fazer roupa feita de roupa, como a própria Gabriela gosta de dizer, outro braço do negócio são as oficinas, no qual pessoas são convidadas a trazerem as roupas que não usam mais e participarem dos processos para transformá-las em outras peças como forma de aproximação entre pessoas e processos. “A pessoa vai lá e compra por R$ 10 e usa. Alguém fez, passou tempo costurando, corta, alguém pensou. Quando (a pessoa) se aproxima do processo de fazer coisas, a relação com o tempo também é diferente”, relata. Nas oficinas, blusas se tornam saias, roupas se transformam e estendem seu ciclo de vida. São essas práticas mais conscientes que Gabriela espera encontrar no futuro: “o cenário ideal é tudo ser fabricado de uma maneira mais consciente”.
A série Mulheres Na Moda Modefica mostra o trabalho de estilistas e empreendedoras brasileiras na moda. São marcas, projetos e pessoas que estão pensando moda para além da estética, com propósito, com cuidado e com afeto. Vamos falar de temas como sustentabilidade, colaboração e outras formas de pensar a moda.