A soma do “up” com cycling (de reciclagem) significa dar um status novo e melhor a algo que acabaria, injustamente, no lixo. A diferença é que o material a ser reaproveitado não precisa ser desfeito para renascer — como uma latinha de alumínio que precisa passar por um processo de reciclagem para virar algo novo, por exemplo. É uma reutilização com qualidade e originalidade dos materiais que merecem uma segunda chance.
De acordo com William McDonough e Michael Braungart, autores do livro Do Berço ao Berço – Refazendo o Modo Como Fazemos Coisas, de 2002, o redesign inteligente é uma das melhores coisas a se fazer para cuidar do meio ambiente. Eles afirmam que o objetivo do upcycling é, então, evitar o desperdício de materiais que ainda têm utilidade, sem ter que criar novas matérias primas, diminuindo assim o consumo de recursos e energia, a poluição do ar e da água e as emissões de gases de efeito estufa. O mais interessante é que, muitas vezes, o produto acabado torna-se mais prático, valioso e bonito do que era antes.
Um exemplo incrível vem da petit h, marca do grupo francês Hermès. Eles recolhem todo o material que sobra da linha de produção da maison e o reinventam em objetos e até obra de arte.
Claro que a moda também adotou o upcycling como uma proposta, além de sustentável, estilosa. Marcas e profissionais em todo o mundo já criam peças exclusivas reaproveitando tecidos e retalhos descartados pela indústria têxtil, que iriam direto para o lixo. Um enorme desperdício de recursos e os aterros lotados de materiais que ainda têm valor. Particularmente, acredito ser a área mais fascinante do reaproveitamento, por sua simplicidade e criatividade. Foi inclusive pelo upcycling que me aprofundei na área da moda sustentável com o projeto experimental Review, para colocar em prática e comprovar por mim mesma como vale a pena.
Como resultado do upcycling, peças artesanais, criativas e produzidas em pequena escala, que já vêm com história para contar. Selecionamos três marcas que têm o re-uso na sua essência e o fazem de maneira incrível, para você adotar já em seu guarda roupas.
Reformation
Reformation x Nasty Gal // Reprodução
A marca americana é uma referência absoluta no mix de upcycling e estética. Eles trabalham com venda online (e entregam no Brasil) e duas lojas físicas, uma em Nova York e outra em Los Angeles – onde fica também a sede da empresa. A fundadora, Yaya Aflalo, trabalhou por vários anos na indústria convencial da moda com uma marca que levava seu nome e, diante dos fatos relacionados à degradação ambiental e social, resolveu migrar para o “lado sustentável da força”. Mas em nada alterou seu design jovial e elegante, com os vestidos, ponto forte da marca, e todo o tipo de roupas produzidas com tecidos descartados de fábricas e reaproveitados de peças vintage. Dos croquis à produção, uma fábrica 100% vertical e responsável.
Gabriela Mazepa
Foto: Gabriela Mazepa/Cortesia
A estilista carioca desenvolve peças e coleções também com tecidos de qualidade descartados pela indústria têxtil. Cria em parceria com costureiras empreendedoras de comunidades do Rio de Janeiro, que trabalham de forma independente ou em cooperativas. Também garimpa peças em brechó para transformá-las e vende tudo em sua loja virtual. Também criou, em parceria com o brechó online Enjoei, o projeto REROUPA, com as peças vintage transformadas por ela e sua equipe.
Insecta Shoes
Os sapatos da Insecta Shoes/Cortesia
O conceito do reaproveitamento de tecidos aplicado em sapatos só poderia ser também um sucesso. É o que faz essa marca gaúcha, que emprega métodos artesanais para transformar em oxfords, botas e, a partir de agora, também em sandálias, tecidos de roupas descartadas. Os sapatos são unissex, com modelos sempre exclusivos e veganos, sem uso nenhum de matéria-prima de origem animal. São produzidos no Brasil com venda o mundo todo.