Os pessimistas dirão que o trabalho escravo ainda está aí e as vendas da Forever 21 estão indo muito bem, obrigada. É verdade, não posso negar. Mas também não posso negar que fico feliz em ver cada vez mais pessoas se informando sobre as roupas que consomem e cada vez mais blogs falando sobre o assunto com muita propriedade.
Para quem não acompanhou, a Box 1824 – uma das agências de comportamento de consumo mais importantes do Brasil – elegeu o Lowsumerism como a principal tendência da atualidade. Isso significa que, gradativamente, as pessoas estão repensando suas escolhas e, quem sabe, em breve perceberão o consumismo como uma realidade ultrapassada.
Há quem bata insistentemente na tecla de que a indústria têxtil é uma das indústrias mais poluentes do mundo. Sim, isso é um fato amplamente conhecido e não pode ser ignorado. Porém, pouco se ouve falar sobre as muitas iniciativas que tentam reduzir esses impactos. Só para citar como exemplo, nesse ano, a Kering (holding francesa que administra marcas como Alexander McQueen e Stella McCartney) desenvolveu um processo de curtimento do couro totalmente livre de crômio e metais pesados e o utiliza em todas as suas marcas.
Pensando em ampliar o alcance desse novo método, a empresa disponibilizou online, junto a uma biblioteca com mais de 1.500 fibras e materiais que foram desenvolvidos de maneira sustentável, todo o processo de curtimento para que outras marcas também pudessem utilizá-lo. É ótimo ver as marcas de percebendo a importância de transformar os processos de fabricação de roupas, acessórios e joias. Isso é ainda melhor se levarmos em consideração o fato que para onde o mercado de luxo vai, o resto segue atrás.
Campanha Stella McCartney // Reprodução
Porém, não se pode falar de moda pensando só em quem consome ou nos processos que fazem parte da sua cadeia produtiva. É preciso falar sobre quem faz também: designers exaustos, por exemplo, se veem obrigados a criar, no mínimo, 6 coleções por ano para acompanhar o ritmo desenfreado da moda. Essa é uma condição real responsável por levar muitos delas ao estresse, à depressão e a outros vícios que podem ser fatais.
Os sinais de exaustão dados por esses estilistas sob pressão foram nítidos em 2015. Segundo a colaboradora da Vogue americana Maya Singer, esse ano parece ter sido o ano em que a moda disse “basta!”. Para ela, a saída de designers como Raf Simons, da Dior, e Alber Elbaz, da Lanvin, estão diretamente relacionadas à estafa criativa vivida pelos designers.
Atuar em marcas menores é uma tendência natural que leva a uma moda mais lenta e autoral. Pense em quantos designers estão abandonando a carreira em grandes empresas para montar suas próprias marcas, onde podem atender a um público que compartilha dos mesmos valores e acredita no estilo criativo do estilista.
A tudo isso, some o cenário global de crise econômica e escassez de recursos: os consumidores, de maneira geral, estão mais espertos, pensando mais no valor do seu dinheiro e não vão consumir qualquer coisa exposta na vitrine.
Essa nova realidade é ameaçadora para empresas que insistem em antigos modelos de negócios, já sem sentido no contexto de mundo atual. As mudanças que estão acontecendo – mesmo que aos poucos – estão interligadas e são um caminho sem volta. Um caminho que aponta para o novo e que vai deixar pra trás quem se recusa a crer nas pequenas revoluções.
É, pode ser impressão minha mesmo… Mas os pessimistas que me perdoem, eu prefiro ver as mudanças como novas possibilidades para o futuro. Afinal, a moda pode ter se cansado dela mesma, mas não perdeu o fôlego para se reinventar. Feliz moda nova.