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A Nova Era Dos Brechós: Buscando No Passado Soluções Para O Futuro

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  • Luiza Guedes
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Consumo sustentável é a pauta principal quando falamos do mercado de moda atual. Entre diversas tendências de comportamento, a moda mais consciente e o lowsumerism estão entre elas. Como carro chefe desse movimento, o brechó, seja de roupas vintage ou de peças de segunda mão, aparece absoluto.

Entre tantas teorias sobre a origem do brechó, a mais popular delas é do ambulante Belchior. No século XX, Belchior ficou conhecido por vender roupas e objetos de segunda mão no Rio de Janeiro. Depois dele, outros empresários abriram “lojas de Belchior” mas com o passar do tempo, o nome de estabelecimentos com esse intuito simplificou e passou de “lojas de Belchior” para “brechó”.

Muito populares nos Estados Unidos e Europa, ganharam força após a crise financeira dos países e vêm crescendo ainda mais com o aumento da conscientização em relação à sustentabilidade, além da crise mundial enfrentada desde 2008.

No Brasil, a atual crise econômica e a busca por uma moda mais sustentável ajudou a espantar o preconceito e o número de novos brechós cresceu nos últimos 5 anos, movimentando todos juntos cerca de R$ 5 milhões por ano. O que até então era cafona, ou destinado a um público muito nichado, ressurgiu como alternativa para o momento em que vivemos, já que alivia o bolso de quem compra e o meio-ambiente

A exclusividade é outro motivo responsável por tornar a imersão nesse universo vintage ainda mais encantadora, pois dificilmente encontraremos alguém com a mesma peça. Mas nem sempre brechó é sinônimo de coisa muito baratinha. Quanto mais antigo for o produto maior seu valor agregado e o preço pode acabar ficando mais alto do que o esperado. Mas mesmo considerando esses produtos com maior valor agregado, de acordo com o Sebrae, nos brechós o consumidor chega a economizar cerca de 80% em relação a produtos novos.

Em São Paulo podemos encontrar brechós nos mais variados segmentos e não é de hoje que a cidade abriga esses estabelecimentos. Alguns se estabeleceram como nomes tradicionais de peças bem selecionadas como B.Luxo, Casa Juici e Frou Frou, outros, como o Capricho À Toa, são conhecidos por terem de tudo um pouco e em enormes quantidades.

“Meses depois de conhecer minha mulher e sócia Paula Reboredo, em 2007, abrimos o B.Luxo. Ambos já amávamos o universo vintage e já tínhamos algumas peças como acervo. A Paula já tinha tanta coisa que já não cabia tudo em seu armário. Daí tivemos a ideia de abrirmos nossa casa para venda para amigos. Logo deu certo e na sequência conseguimos um espaço na loja francesa Surface to Air, que ficava no Jardins”, explicou Gil França, dono do B.Luxo.

Vimos que tínhamos público e nos arriscamos em uma pequena loja de galeria! Hoje, continuamos na Augusta em uma loja maior. No início já nos preocupávamos com o meio ambiente! Mas, hoje [essa consciência]só vem aumentando, e vemos que muitos já se preocupam também e preferem consumir aqui na loja ou em outros lugares com a mesma intenção! Consumo consciente,exclusividade e qualidade”, finaliza.

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Brechó B.Luxo localizado nos Jardins e conhecido por curadoria primorosa.

Além do amor pelo vintage, junto com os problemas relacionados a impactos ambientais e sociais da cadeia produtiva da moda, cresceram também os consumidores que questionam as práticas trabalhistas da indústria têxtil e com isso buscam nos brechós uma alternativa a fim de não compactuarem com fenômeno ocasionado pelo fast-fashion, que estimula o consumo e descarte de roupas além de tantas outras irregularidades já bem conhecidas.

Engajadas no conceito slow, Luzia e Giovanna Belucci, mãe e filha donas do Frou Frou, acreditam que aos poucos o público vai entendendo o conceito por trás das roupas de segunda mão. “É um trabalho de catequizar as pessoas”, brinca Giovanna, que tem o garimpo como sua paixão: “É mais autêntico, sustentável e barato”.

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O B.Luxo também conta com acervo para locação e editoriais.

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O Frou Frou tem desde garimpos baratíssimos até peças de marca como Chanel e Valentino.

Quando falamos de peças reutilizadas, vale a pena ressaltar que como compradores, devemos estar sempre alerta para fazer boas escolhas. Saber a origem, o material e a idade média da peça são fundamentais para fazer melhores escolhas e prolongar a vida útil da sua roupa, já que o intuito é cuidar bem para não sejam descartadas tão cedo.

Os sócios Junio Guarnieri e Simone Pokroop, fundadores da famosa Casa Juisi, espaço voltado para residência artística, pesquisa de moda e aluguel de figurino, comandam acervo e loja/brechó do Juisi by Licquor, fazendo, além da curadoria, a restauração de suas peças vintage quando necessário, utilizando, inclusive, os aviamentos da época da peça.

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Roupas e mais roupas no Juisi By Licquor.

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Juisi By Licquor além de brechó tem um acervo enorme para locação.

Engana-se quem acha que não é possível estar atual garimpando peças de brechó. A dica é começar por peças atemporais ou buscar ajuda com quem entende do assunto. Por serem roupas antigas, não tenha pressa na hora da escolha e verifique atentamente todos os detalhes. Repare se não há furos, manchas, costuras arrebentadas e avalie se por ventura houver, se o reparo vale a pena no custo-benefício final. Boa sorte com suas “novas” escolhas!

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